quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Brilhante!


     "Não vou discutir a nossa anistia, enfiada goela abaixo ainda durante a ditadura e aprovada pelo partido que foi por ela criado: todos os representantes da Arena votaram em benefício do regime, e portanto próprio. Os deputados do MDB, um pequeno sopro de oposição, disseram não à Lei de Anistia. Por 5 votos (206 a 201), a excrescência foi aprovada. 

     Legalmente, embora não legitimamente, o Congresso amordaçado deu salvo-conduto aos crimes de tortura e assassinato praticados pelo Estado brasileiro por meio de seus agentes. Sádicos profissionais podiam andar nas ruas livremente, sem medo, graças à Arena, a quem, vejam bem, os torturadores prestaram seus serviços. Um jogo de comadres.

     A anistia significou, assim, impunidade. Os assassinos não poderiam mais ser punidos pelos crimes que cometeram contra a humanidade. Nada adiantou recorrer ao Supremo Tribunal Federal mostrando o momento não-legítimo da aprovação da lei, e muito menos alegar que por tratados internacionais os quais somos signatários, crimes contra a humanidade não podem ser objeto de revisão nacional. O STF entendeu, sabe-se lá como, que aquele "acordo político" era válido e endossou o salvo-conduto dado pela Arena.

     Muitos, mesmo dentre aqueles que defendem a revisão da Lei de Anistia, sustentam que nada mais adianta já que a maior parte dos crimes já estaria prescrita (com a exceção, claro, daqueles contra a humanidade). Perguntam estes, pragmaticamente, por que mexer em vespeiro se não podemos mais punir os sádicos.

     Pois bem, lhes respondo. Primeiro porque um crime é um crime, é um fato ou a interpretação sobre um fato. Como sabemos, fatos não podem prescrever, deixar de existir. O que pode prescrever é a punição, a sanção, ou o direito do Estado de punir a conduta criminosa. Esta não deixa de ser criminosa por não poder mais ser punida.

     Assim sendo, em uma decisão de colegiado, a justiça brasileira reconheceu um fato. O Coronel Carlos Brilhante Ustra, ex-comandante do centro de tortura DOI-Codi, é um criminoso, um torturador. Foi ele o responsável por inúmeras torturas e alguns assassinatos.

     Não adianta apelar à anistia, pois não há (ainda) punição ao crime. Há fatos incontestes, e estes nos permitem, a partir de já, chamar o Coronel pelo que ele realmente é: UM CRIMINOSO, UM ASSASSINO, UM TORTURADOR.

     Se isso não faz justiça às vitimas, faz, ao menos, à história."


Por Walter Hupsel | On The Rocks

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