quarta-feira, 11 de junho de 2014

Drogas: liberar para punir?



Noriega condecorado pelo presidente da CIA, George Bush, em 1976 (Foto: AP)Noriega condecorado pelo presidente da CIA, George Bush, em 1976 (Foto: AP)Conversando com policiais da velha guarda, veio a surpresa: todos torcem para que a maconha (a exemplo do Uruguai e do estado do Colorado, nos EUA, entre outras heliotropias que buscam o sol de Judá) seja liberada imediatamente no Brasil.

Todos torcem, também, para que outras drogas pesadonas, como cocaína, heroína, crack e mesmo LSD, sejam também liberadas aqui na terra de Macunaíma.

Bem, antes de chegar à filosofia exposta pela tiragem muito claramente, há que fazer uma ponta neste espetáculo o numerário a envolver as drogas.

Referem as Nações Unidas que haveria hoje no planeta 340 milhões de malucos, englobando consumidores de heroína, ópio, cocaína, maconha, alucinógenos e barbitúricos. Isso significa que o número de dependentes é maior ou igual que  a população dos EUA. A dependência de calmantes e sedativos lidera todas as modalidades, com 227,5 milhões de consumidores, ou quase 4% da população mundial.

Em seguida, vem a maconha. Tem 141 milhões de adeptos, totalizando mais de 3% da população mundial. A cocaína tem 14 milhões de usuários. Cerca de 8 milhões de almas são adeptas costumazes da heroína e 30 milhões, ou 0,8% da população mundial, recentemente mergulharam no consumo desenfreado das chamadas drogas sintéticas, como ATS e meta- anfetamina.

Noriega preso pelo mesmo Bush, agora presidente, em 1989 (Foto: AP)Noriega preso pelo mesmo Bush, agora presidente, em 1989 (Foto: AP) Estima-se que sejam apreendidos em todo o mundo, pelas polícias locais, apenas de 5% a 10% de toda a droga ilegalmente produzida. Para abastecer o lote que vai pular logo mais para 400 milhões de junkies planetários, há mecanismos econômicos que lucram até US$ 400 bilhões por ano –uma soma igual à gerada pela produção mundial de artefatos têxteis.

Em todo o planeta a produção de maconha cresceu 10 vezes em 25 anos. Nos EUA, a erva agora é o cultivo mais lucrativo, com o valor de sua colheita excedendo o do milho, soja e ferro (de resto as três atividades extrativas mais lucrativas daquele país). Em solo norte-americano 500 gramas de maconha podem custar entre US$ 400 e US$ 2.000. A mesma quantidade de maconha da melhor qualidade, conhecida como “sinsemilla”(as sem-sementes, chamadas também de “juicy and seedless”, suculentas e sem-semente) é vendida por taxas entre US$ 900 e US$ 6.000 cada 500 gramas. O lucro dos narcotraficantes, no ato da revenda, é de pelo menos 20 vezes.

Face esses números, o primeiro argumento dos tiras é o mais objetivo e comum possível: ao liberar o consumo de todas as drogas, o governo taxaria com impostos mil os traficantes recém-legalizados.

O argumento mais escalafobético dos tiras é o segundo. Coloca-se aqui as palavras de um deles. “Liberar as drogas é bom porque, além de acabar com a violência nos pontos de venda, isso iria gerar um fator interessante: todos saberiam quem sãos os clientes que compram drogas. Teríamos um transparência tamanha. Você iria saber qual funcionário na sua empresa trabalha com o coco chapado”. O mesmo tira argumenta que são os próprios consumidores que teriam medo do liberou geral das drogas. “Quem  consome drogas pesadas quer tudo menos contar aos outros que anda por aí com a cabeça feita. O consumidor é o primeiro inimigo da liberação das drogas, acredite”, defende o tira.

O terceiro argumento é sumariamente geopolítico.

Este blogueiro cobriu pessoalmente, em Miami, o julgamento do ex-homem forte do Panamá, Manual Antonio Noriega. Foi preso em 20 de dezembro de 1989, pela operação Justa Causa – quando 15 mil homens da Guarda Nacional, comandados pelo presidente George Bush (o pai), invadiram o Panamá.

Bush havia condecorado Noriega 13 anos antes, quando era diretor da CIA, a central de inteligência dos EUA.
Fonte blog do  Cláudio Tognolli
O blogueiro no leito de morte de Timothy Leary, 1996O blogueiro no leito de morte de Timothy Leary, 1996
No julgamento de Noriega, Carlos Lehder Rivas, fundador do Cartel de Medellin, disse ao juiz William Hoevler, na Corte Federal de Miami. “Senhor juiz. Por anos a fio os EUA exploraram os povos pobres da América Latina, mas veio nossa vingança: a cocaína é a bomba atômica da América Latina”.

Lehder Rivas politizou como ninguém o argumento da liberação das drogas.

Em 1980, quando o general  boliviano Garcia Meza deu o golpe que derrubou a presidenta eleita Lidia Geiler, esse argumento apareceu pela primeira vez.

E foi bem na bíblia dos muito loucos: a revista High Times. O editorial apontava que por detrás de cada consumo de droga poderia haver “um golpe de estado sendo dado contra um governo democrático”.

Ninguém menos que Timothy Leary, guru do LSD, passou a  defender tal argumento. Homem para quem John Lennon compôs “Come Together” e para quem o The Who compôs “The seeker”, Leary disse a este blogueiro em seu leito de morte, em 1996: “O sonho acabou a partir do momento em que as drogas passaram para as mãos das máfias. O que libertava o indivíduo agora pode escravizar as democracias”.

E é bem neste ponto que os tiras trazem o terceiro argumento: quem consome drogas, no modelo de repressão atual, e tem medo da violência, está dando um tiro na própria cabeça, porque acaba dando combustível para quem aterroriza gente de bem.

O que fazer, então? Liberar tudo e assumir perante o patrão, o padre, perante El Rey, perante o homem do divã, que você compra “n” gramas de algo para se sentir razoavelmente bem?

Fonte  Blog Cláudio Tognolli 

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